As referências que menciono, embora não sejam muitas, são importantes. Pelo menos do ponto de vista pessoal, pois formaram uma “mini-enciclopédia” do carpe diem e do memento mori na minha cabeça, junto com outras músicas de outros artistas. Há letras em que a desilusão e a tristeza é o tema principal, palpável. É o caso de “a grande viagem”, em parceria com Paulo César Pinheiro:
O mar tem muito mistério,
A vida muito segredo.
O mar às vezes assusta
E a vida dá medo.
A gente é só marinheiro,
A vida é como o oceano.
O mar tem barco-fantasma,
A vida desengano.
O mar é pura aventura,
A vida é a grande viagem.
Por isso o mar tem quimera
E a vida miragem.
O mar é estrada comprida,
A vida é um barco no mar.
O mar vai dar em que vida?
E a vida onde é que vai dar?
Nesse caso, o próprio tema é, deliberadamente, triste ou melancólico. Mas o que falo é das coisas quase subliminares, incutidas, das deixas que ficaram em letras que falam principalmente das coisas boas da vida, do amor, dos amigos, e nas quais o poeta Toquinho não conseguiu não por uns versos que denotassem que ele sabe a medida certa, a exata distância, entre a dor e a delícia da vida. Nas várias vezes em que refleti sobre isso, sempre sem concatenar as idéias e sem pensar em escrever, fiz divagações muito mais prolixas sobre o assunto. No entanto, agora que decidi escrever, vou tentar ser mais objetivo.
Bem, vamos aos trechos de músicas onde captei essas idéias/mensagens, e as conclusões ficam, óbvio, a cargo de cada um que ler.
1. Em “Aquarela”
"...
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."
Após essa última quadra, versos do início são cantados, entremeados pela repetição da frase “que descolorirá”, numa clara referência ao fim de tudo, na ótica do compositor. Esse mesmo raciocínio Toquinho iria retomar em “Coisas do coração”, uma letra melancólica, que trata da perda do amor e da ilusão:
"Coisas do coração
Passam como as nuvens lá do céu,
Fazem da lembrança um carrossel
Que o tempo que aí vem vindo
Pouco a pouco irá cobrindo
Tudo, tudo com seu imenso véu"
2. Cartão Postal
A isso eu junto um amor profundo
E um perdão que não negue.
Um batizado e um cheque sem fundo que passei
Junto, no ato, o azul de meu quarto
E essa vida que é um enfarto no meu coração
Hoje se parte
Partir é uma arte que faz tudo ser recordação
Essa música é uma sambinha com batida e arranjo mais pop, como era a tendência de Toquinho na época, onde os trabalhos passaram a ser mais intimistas do que na fase com Vinícius. Infelizmente, nunca foi lançada em CD, nem foi gravada ao vivo. O disco é "Sonho Dourado", que há muito tempo tento encontrar.
3. À Sombra de um Jatobá
Poucas coisas valem a pena
o importante é ter prazer
Longe de mim a inveja e a maldade escondidas na vida
Hoje estamos nós em cena e não há tempo a perder
pois tudo acaba mesmo sempre em despedida
Esses dois versos fecham a letra da música, que até aí não tem nenhuma referência à finitude, e por isso mesmo à necessidade de se dar valor e curtir cada minuto como se fosse o último tudo aquilo que é citado na letra, que começa assim:
Raios de sol na varanda
verde cobrindo o jardim
poder sentir a vida espreguiçar
com o cheiro da madrugada
dama-da-noite, jasmim
olhar no céu estrelas pra contar
quem amo me amando, sim
longe do a mor de quem nos finge amar
Ver na manhã de um domingo,
meu filho sorrir pra mim
depois dormir à sombra de um jatobá
SENDO ASSIM: CARPE DIEM... MEMENTO MORI!