sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dor e prazer... ou carpe diem et memento mori

Eu tenho escrito pouco, por causa das dores nos dedos (LER). A limitação por conta do acidente só piora as coisas. Mesmo asssim, digito só com 2 dedos da esquerda sem olhar pro teclado, como fazia com os 4 dedos antes do acidente. Só comento isso porque realmente foi a oportunidade de não achar piegas aquelas afirmações dos jornais televisivos sobre superação. Mas isso não vem ao caso agora. O que importa nesta postagem é que achei um email que havia mandado pra uma amiga, e gostei do que li, por isso decidi publicar (avisando pra ela, claro):

"Eu me achei quando consegui observar nos bichos e nas plantas o que há de mais importante. Foi minha salvação, antes mesmo de morrer. Hoje, sou totalmente descrente em religiões, embora não me considere ateu. Então, tudo que tenho é o que toco, o que cuido, o que cheiro, o que vejo, o que sinto com o coração e a mente. Meu mundo sempre está à beira de um abismo, tudo embalado por boa música. Às vezes sinto inveja de quem tem fé em algo além. Mas já sei que comigo não é nem vai ser assim. Não preciso confirmar quem está certo: o umbandista, o evangélico, o judeu, o católico ou o muçulmano. Não me interessa. Tudo é uma guerra. Não me interesso por guerra. Só se precisar participar ou travar uma para salvar plantas, bichos, lugares e paisagens, ou o conjunto disso tudo pra minimizar o estrago da praga que nos tornamos como espécie, num sentido biológico.
Num sentido histórico e cultural, nós somos o bem e o mal, o mel e o fel. Então, só podemos crescer e saber escolher. Por isso, adoro Zé Ramalho e detesto forró de plástico. Bem, isso é uma comparação besta. Zé Ramalho faz música. As bandas fuleiras de forro de plástico fazem comércio com som, na maioria das vezes.
Nesse abismo que falei, às vezes me sinto pendurado, quase deixando escapar o último dedo. Às vezes, as amizades, a música, minha amada, os bichos, as plantas, a chuva forte, os rios, as montanhas da minha terra, tudo isso me dá asas. Aí eu solto os dedos e dou um vôo rasante, subo e depois pouso suave... e a vida continua. Não troco nada real por simulação (por isso dedico horas ao cinema e nenhum minuto a jogos eletrônicos). Vida é prazer intenso. É dor junto. É corte e cicatrização. É caldo de manga descendo a goela. É bico de seio eriçado de tesão.
Obrigado por ativar meus dedos. Só a dor neles me fez parar de
escrever agora."

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